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Acompanho anualmente as informações sobre certificações em sistemas de gestão ISO e os resultados que vejo são, no mínimo, decepcionantes pois vemos uma grande queda no número de certificados emitidos a cada ano.
A justificativa dada pela ISO é muito simplória e na minha visão é considerar os leitores como meros desconhecedores do tema. Ver em https://www.iso.org/the-iso-survey.html analisado em 01/10/19.
Até 2014 a ISO publicava em seu site um mapa-múndi com uma diferenciação de cores onde era possível identificar os países com mais certificações e nos anos seguintes este mapa foi retirado do ar e só começamos a ter os dados anuais que são publicados com aproximadamente 10 meses de atraso, sendo justificável pela dificuldade que devem ter para compilar dados em uma era com tanto avanço tecnológico.
Abaixo segue uma representação numérica das duas maiores certificações em sistemas de gestão conhecidas no mercado a ISO-9001 e a ISO-14001, somente para demonstrar a realidade dos fatos.
Certificações ISO-9001
2014 com 18.201 certificações
2017 com 17.175 certificações
2018 com 16.351 certificações
NOTA: Mesmo com a crescente queda no número de certificados emitidos no Brasil ainda estamos entre os 10 maiores países em certificações ISO-9001, representando aproximadamente 1,68% das certificações mundiais; lembrando que somente a China representa 33,65%. Depois perguntam o motivo do crescimento chinês. Será que não está na crença de buscar a melhoria de seus produtos e processos?
Certificações ISO-14001
2014 com 3.222 certificações
2017 com 2.948 certificações
2018 com 2.871 certificações
NOTA: Mesmo com a crescente queda no número de certificados emitidos no Brasil ainda estamos entre os 10 maiores países em certificações ISO-14001, representando aproximadamente 0,94% das certificações mundiais; lembrando que somente a China representa 44,52%. Depois perguntam o motivo do crescimento chinês. Será que não está na crença de buscar a melhoria de seus produtos e processos?
Quanto a entidade ISO acredito que uma melhor transparência ajudaria a tentarmos entender a realidade, pois a sequência de fatos (retirada do mapa-múndi e apresentação de dados somente do ano em questão), culminando com a crescente queda das certificações me parece um pouco esquisito.
Como trabalhamos na área, sempre orientamos os nossos clientes que uma certificação em sistemas de gestão pode trazer alguns benefícios. Citarei alguns relacionados a ISO-9001, porém são estendidos para outros sistemas, considerando suas particularidades.
- Reconhecimento por clientes e pelo mercado que a empresa possui uma estrutura mínima de gestão que é auditada periodicamente de forma a assegurar sua continuidade;
- Padronização dos processos, permitindo a continuidade e reduzindo os erros por motivos de tentativas;
- Melhoria dos processos, permitindo as empresas reduzirem erros, aprenderem a tomar ações corretivas, mensurar processos, fazerem planejamentos, etc;
- Redução do risco, visando melhorar a gestão, produtos / serviços e processos com base no risco que apresentam para os negócios;
- Marketing e endomarketing, demonstrando o compromisso da organização com a certificação.
É importante ressaltar que não precisamos escolher um destes caminhos citados acima, devemos buscar alcançar todos estes benefícios para que o negócio se torne perene.
Na minha visão os problemas associados a queda nas certificações dos sistemas de gestão são muito claros “os clientes não enxergam o valor agregado”, ou seja, “o investimento não possui um retorno considerável” e abaixo colocarei minhas considerações:
- A ISO deveria buscar um resultado melhor dentro das organizações quanto a satisfação com padrões e certificações que não cobram a melhoria contínua das empresas certificadas. Corrigindo cobram a melhoria contínua, porém não é cobrada de forma enfática junto as organizações;
- O Cgcre do INMETRO, que audita as certificadoras, deveria ir a campo avaliar os resultados das certificações nas empresas ou realizar uma pesquisa com as empresas que desistiram das certificações para entender onde o processo deve ser melhorado;
- Algumas certificadoras estão utilizando acreditações internacionais, talvez por orientação de suas matrizes, para reduzir o custo por meio de certificação em grupo, porém é visível a fragilização deste processo pois as auditorias ocorrem com periodicidades alongadas e acabam por permitir uma queda na qualidade dos serviços. No meu ponto de vista,, toda certificadora deveria obter uma acreditação nacional no país que opera (ex: certificadoras que operam no Brasil devem ser acreditadas pelo Cgcre) de forma a existir um controle mais próximo;
- Algumas certificadoras realizam auditorias de baixa qualidade, olhando somente o básico, e não incentivam os clientes a buscarem melhores resultados. Não estou falando de não conformidades, mas sim de agregar valor ao processo do cliente; estimular o mesmo a buscar um melhor desenvolvimento do seu sistema de gestão (ex: melhorias de desempenho, melhor planejamento “estratégico”, integração do sistema de gestão com demais sistemas de gestão da organização, etc);
- Muitos consultores oferecem serviços básicos, sem consistência, que levam os clientes a certificação, porém não conseguem se quer demonstrar resultados palpáveis nem a si próprios o que dirá a seus clientes.
Acredito que o que está ocorrendo no mercado é uma limpeza das empresas que não souberam e/ou não foram estimuladas a utilizar o seu sistema de gestão para melhorar a organização e as que ficarão serão aquelas que possuem compromissos / acordos de melhoria e que irão continuar nesta senda pois acreditam que está é uma das melhores formas de melhorar a gestão das organizações.
Desculpa pelo desabafo, mas não dá para continuar somente olhando o “trem passar” e não tomar atitude.
Marcelo Amaro
Diretor Técnico
AMARO Consultoria